Aquela porta abriu um mundo
porta que era muito mais do que uma porta
muito além de bege, laminada tábua de madeira...
A porta
não separava minha privacidade da tua
não separava minha privacidade da tua
ela nos privava do mundo,
da cidade
da verdade.
A porta ali estava
inerte
calada
dividindo em dois
o silêncio estrondoso que vinha do outro lado
o silêncio estrondoso que vinha do outro lado
separando tuas mágoas mais profundas
de teu sofrimento incansavelmente negado.
Atrás da porta
uma estrela morreu
e a porta me deixou sem endereço
mas me ensinou:
moro no coração do mundo.
Atrás da porta dançavam
um segundo e um século inteiros
adentrando feito vento
teu triste perdido olhar
tua incredulidade
(medo de ser amado?)
A porta nos escancarou todos os nossos medos
nossos segredos mais mesquinhos
e todo desamor que persiste na dor que resiste.
A porta desde sempre soubera
quem éramos
quem seríamos
e me abriu por inteira
quando a abri.
A porta me virou pelo avesso
no avesso do avesso de minha pele
carne exposta
resposta para perguntas que nunca fizera.
E a força
- força que não é necessária para uma porta abrir,
minha não era.
A porta simplesmente abriu-se
tal flor que desabrocha derramando seu perfume sem pedir licença
inundando com seu aroma a tarde inteira
a vida inteira contida naquele abraço
(sim, o brilho do sol inundando teu quarto confundia-se com o perfume e
o toque em meus cabelos, e aninhar-me fez-te sentir em casa e completamente
grato).
A porta
simplesmente confirmou
que nenhum benefício se encontra em fugir da vida
que nenhuma garantia existe
onde feridas não sangram
e cama nenhuma
por mais cara, macia ou merecida
conforta a alma.
A porta
era o fiel do mundo.
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