"Se você passa um ou dois dias desenhando um objeto ou uma
imagem, há simpatia com aquele objeto ou pessoa incorporado na ação humana de
desenhar. Para mim, há algo na dedicação para com a imagem, [...]. Há alguma
coisa com relação às horas que se dedica a estudar fisicamente aquelas cabeças
e pinta-las que se torna, para mim, um ato de compaixão; mesmo quando alguém diz que se trata de um desenho de muito sangue frio, ou que estou sendo
mórbido e cruel olhando para um desastre ou até que estou usando o sofrimento de alguém como matéria bruta para o trabalho.
É Exatamente isto que o artista faz, ele usa a
dor dos outros como matéria bruta. Ele é uma espécie de vampiro. Certamente há uma
apropriação do infortúnio alheio na atividade de ser um escritor ou um artista.
Mas também há algo na atividade de contemplar e retratar a pessoa, de passar
o tempo com ela, que, espero, quando se é
artista, nos redime da atividade e ela deixa de ser apenas exploração e abuso."