quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Sinto falta de imagens menos óbvias!

Há algum tempo tenho achando o cinema chato. Igual. Gosto de ver filmes que de alguma maneira me comovam, ou me surpreendam. E que façam isso abalando profundamente minha percepção e minha maneira de ver e pensar sobre as coisas. Tem sido difícil ter esta experiência ultimamente. Mas, pelo menos três filmes da temporada cinéfila de verão mexeram comigo.
Não se trata de obras primas do cinema. Em matéria de cinema, sempre acho que o visual é uma das causas da alteração da percepção, logo, é responsável pela alteração em nossa maneira de pensar. Gosto de pensar que a imagem no cinema permite aquilo que Wim Wenders (http://www.wim-wenders.com/ e http://pt.wikipedia.org/wiki/Wim_Wenders) no documentário Janela da Alma chama de espaço para “entrar no filme”. A partir daí, levando em consideração a minha relação com o cinema, o restante acompanha. Fala-se por imagens. Conta-se histórias, como diz Wim Wenders com imagens. A música, o roteiro, os personagens, podem ser uma tentativa de abertura da imagem. Quando isto acontece, tem-se o cinema que aprecio. O cinema que necessito.
Dentre os três filmes vistos recentemente, há um no qual esta idéia fica explícita: Biutiful de Alejandro González Iñárritu
(http://www.youtube.com/watch?v=ra8a-D7p3JE&feature=related). A história se passa em Barcelona, mas a maior parte dos turistas que estiveram lá um dia talvez não entendam o que vou dizer agora. O filme de Alejandro me fez lembrar do cheiro de Barcelona! Mais do que o enredo, que não é pouca coisa, ou da atuação de Javier Barden que é incrível, este filme me pegou pelas imagens de Barcelona que apresenta. Não falo somente das tomadas panorâmicas menos óbvias da cidade. Falo dos becos, das ruas na luz outonal, da Barcelona da chuva, falo do banheiro, das janelas e do papel de parede! Biutiful me transportou para o registro de algo que já vivi, imersa de corpo, de alma.
Há também um filme simples que me pegou pela projeção. Pela projeção de mim mesma ali na tela. Sobrevivendo com lobos (http://www.youtube.com/watch?v=Gnj9IhOkvnw&feature=player_embedded) me fez ver, viver, e reviver, o sonho. Um sonho infantil com lobos e feras selvagens. O filme transformou em imagem real meu imaginário infantil. Me devolveu o vento e a neve! O filme me lembrou que algumas ficções são mais reais que nossa história verídica!
Já o terceiro filme que me marcou na temporada me pegou pela emoção. O Concerto (http://www.youtube.com/watch?v=pMA3or8iT9I) pode não ser genial na forma, mas é complexo ao levar o espectador, de fato, do riso às lágrimas. Há uma ironia política sutil na história. Bom, nem sempre sutil... Há uma revelação mais ou menos óbvia da relação entre histórias pessoais e escolhas artísticas, ou mesmo a escolha pela arte em si. Mas não me pareceu nada óbvia a maneira como o diretor colocou emoção e comédia no mesmo filme.
Concordo com Wim Wenders, o ser humano precisa de histórias. A história nos dá conforto, a história nos dá sentido! Mas, a história, não se conta somente no enredo. “Há mais verdade na forma do que na história” como diz de maneira arrasadoramente crítica Slavoj Zizek (http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1645148-17665-314,00.html).
Num momento de percepção de um cinema cheio de imagens óbvias, estes três filmes foram uma grata surpresa! E em todos eles a neve, silenciosa, conta sua história...

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