segunda-feira, 30 de janeiro de 2012


















Uma tragédia nunca é apenas uma tragédia. Uma tragédia é sempre a soma, adição, de inúmeras tragédias. A vida humana se manifesta em diferentes planos e aspectos e a vida propriamente dita vive de muito mais do que o fenômeno físico de estar vivo. A vida não se resume, afinal, ao movimento de ar nos pulmões ou às batidas do coração. Sendo assim, a quem caberia o direito de julgamento sobre as tragédias humanas? Quem poderia determinar, quem teria o direito de determinar, a dimensão das tragédias? Perder uma casa também é perder uma vida. Perder um espaço marcado pelo tempo, também é perder a história de uma vida. Perder a história de uma vida, é perder um pouco dela. 
Fiquei pensando sobre tudo isso ao perceber as discussões que se alastravam nas redes sociais onde pessoas comentavam e dimensionavam tragédias. Pensou se era ou não pertinente comentar. Tudo o que sabia é que sentia saudades de coisas que haviam se perdido. Que haviam sido. E não sentia apenas saudades de seu avô ou de sua avó. Tanto quanto sentia a saudade deles, das pessoas que eram, daquilo que faziam, de seus cheiros, gostaria de poder voltar no tempo para ver a luz do jardim da sua infância e abrir o armário de livros da casa da praia para respirar profundamente. Um pouco de seus olhos haviam morrido naquelas décadas de crescimento imobiliário. Um pouco de seus pulmões haviam desfalecido quando se vendeu a casa de madeira da praia do Pinhal. Lá naquele lugar que também se foi, feito as cinzas dos mortos, estavam enterrados seus avós. No limiar do tempo, perdemos todos o corpo. O corpo que dá vida às memórias. O corpo que dá sentido à vida. A morte morre todos os dias. A morte morre em tantos pedaços quanto a vida.

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