sábado, 26 de maio de 2012

sábado, 5 de maio de 2012

Degas e um pouco de erotismo



































Como falei na postagem anterior sobre o quanto as fotografias de Matt Blum me lembravam as banhistas de Degas, achei oportuno postar alguns desses desenhos feitos por ele em pastel seco. Em seu tempo, finais do século XIX, Degas também desafiava convenções, modismos e estereótipos de erotismo e representação. Nesta época, ainda, a arte apresentava a nudez feminina preferencialmente no reservado espaço da ilustração mitológica. Nas cenas com deusas nuas, o espaço estava cuidadosa e moralmente afastado dos olhares das mulheres da época. Degas, ao contrário, despe mulheres de seu próprio tempo. Despe as mulheres que lhe são possíveis. Mulheres reais. Mulheres ocupadas em uma tarefa algo trabalhosa na França da época que não possuia água encanada ou banheiros propriamente ditos. Mulheres ao banho. Entrando e saindo de banheiras, bacias, o que houvesse. Pensando em erotismo, quanta analogia é possível, quanta metáfora para as poses, maneiras e utensílios que cada um desses desenhos mostra e para o outro tanto que sugerem.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Cortinas de banheiro e outros erotismos...









Fiquei encantada quando vi este projeto fotográfico: The Nu Project, do Matt Blum. Lembrei de um trecho lido dia desses sobre o erotismo que afirmava que o erotismo existe em nossa cabeça, em nossa mente, muito mais do que em nosso corpo. Certa vez tive uma reveladora conversa sobre imaginário baseada na consideração sobre o valor das cortinas no box do meu banheiro. Obviamente certo outro argumentava comigo sobre a necessidade que havia de eu substituir minha cortina com estampa setentosa em tons de azul por um box de vidro temperado. Quanto a mim, definitivamente, o banheiro perderia o tempero, justamente. Pois bem, a série de Matt mostra justamente isto, revela e é isto: uma nudez real. E, talvez por isso, algo com real potencial erótico. Admirei tanto o fato do fotógrafo mostrar corpos reais como o fato de fotografá-los em seu próprio ambiente. Erotismo é isso, não é a perfeição da forma. A série de fotografias de Matt me lembrou muito a série de desenhos de banhistas realizadas por Degas no final do século XIX. Sobre o desenho, Degas afirmava que não era a forma, mas a maneira de ver a forma. Erótica é a maneira de ver a forma. Há coisa mais brochante que um estereótipo? Muito mais do que encontro de um corpo idealizado - massacrado em nosso imaginário pela mídia - o erótico pode ser o insuspeito de nós mesmos que descobrimos através do outro. A cor de uma parede, os ladrilhos antigos na parede do banheiro, uma sujeirinha no canto, o tecido amaciado pela pele da roupa de cama, certo livro na estante, é tão erótico quanto um insuspeito, um desconhecido, imprevisto gosto de boca, dobra de pele, cheiro, marca, coçadinha no queixo. O potencial erótico da série de Matt se amplia ao mostrar não somente certas nudezes, mas também certas casas, certas vidas, certas realidades. Afinal, despir-se é bem mais difícil do que tirar a roupa.

Além das imagens, pra quem se vira com o inglês, o site do projeto é absurdamente generoso e, penso, uma fonte muito interessante de pesquisa, pois disponibiliza também muitas informações e depoimentos das mulheres fotografadas. 
Para ver o trabalho na íntegra, acesse: http://thenuproject.com/