sexta-feira, 12 de setembro de 2014

G.H. 1

Uma parte de mim se recusava a voltar. Se não recusava, pelo menos não desejava a volta. A volta já não era mais apenas volta para casa, ou sua casa já não era mais exatamente seu lugar. Condensados na casa, incrustados no tempo feito o mofo nas paredes estavam velhos hábitos. Condensadas formas de perceber, reagir e interagir com o mundo. Na casa, era toda enraizada – perdera o gosto da linha de horizonte, da perspectiva ampla. A casa era sólida, era sua. No papel. Com o passar do tempo e a soma das viagens, modificava-se o voltar. No começo, era voltar para seu lugar, para seus modos, jeitos, comidas, horários, confortos. Voltar a casa era voltar a seu eu. Talvez o que já não desejasse era voltar a esse eu que parecia tão antigo quanto o tempo. O que no começo era sua zona de conforto aos poucos começava a torna-se zona de recusa, zona de afastamento. Preferia até estar no desconforto emocional de outros lugares, por mais que esses também necessitassem emergir de décadas de águas passadas, choros honestos e lágrimas mesquinhas. Encontrava-se em um lugar onde sentia que já não era mais, e ainda não sabia o que era, ou o que seria. Era antes das eras, feito G.H.

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