Ela não era mãe.
Seu corpo não conhecera a transformação das entranhas. Aquela súbita energia
crescendo dentro de si sem ser sua. Não conhecera as dores do parto na carne. Tão
pouco o êxtase da vida saindo de si, da vida cristalizada no olhar de seu filho
recém-nascido. Ainda assim, pensava que não era difícil entender a aranha. A metáfora
da aranha desenhada pela artista. A cada semana, às vezes até mesmo a cada três
ou quarto dias, era relembrada sobre o sentido da dedicação que a artista
atribuía à mãe tanto quanto à aranha. Ao passar dos dias na pequena casa que escolhera
como lar após ter desistido de tudo que era seu meu até então. A cada retorno a
pequena casa que cabia perfeitamente dentro de si própria. Pequena casa não
mais sua nem menos do mundo do que cada outro quarto de hotel qualquer. A cada tentativa
de limpeza, lhe marcava imperiosamente a dedicação das aranhas. Não que sequer reconhecesse a mesma dedicação em sua própria mãe, mas a cada semana, independentemente da
vassoura ou da escova, do pano de chão ou do vinagre, em cada canto, em cada
dobra do espaço, em cada esquecimento do dia a dia, lá estavam as
teias novamente. As teias tecidas na dedicação constante, incansável de um fazer que instalava a cada dia o dia a dia ignorando a cada tentativa do que, ou de quem
quer que fosse a retirá-las do lugar onde haviam se instalado. A dedicação era
a constância. A dedicação era um viver que se construía em um fazer eterno. Um
fazer contrário a todas as probabilidades. Um fazer além do todas as ameaças,
de todo alijamento de seu direito de ser diligente.
quarta-feira, 6 de abril de 2016
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