quinta-feira, 20 de novembro de 2014
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
II
A verdade mais simples de saber é esta que não é preciso dizer. Que lê-se nos olhos.
O que queres saber afinal? O que achas que posso te dizer quando és incapaz sequer de olhar-me nos olhos? Quando sequer procuras meu olhar? Quando nem mesmo deixas eu eu encontre no teu olhar o sentido da tua vontade de saber? O que achas que eu posso te dizer, que não queres escutar de ti mesmo?
E eu não sei o que te dizer. Eu sequer sei como agir. A minha confusão interna é tão grande, tão imensa quanto a confusão de tentar ver o que não me olha. E fico tentando antecipar em tua pergunta a resposta para a minha. Conjeturo se minha pergunta não é a mesma pergunta da resposta que esperas.
Perco o fio de meus pensamentos tentando adivinhar se deveria primeiro responder-te ou também perguntar-te. E faço tudo isso para tentar esquecer-me de todas as certezas que habitam meu coração e contra as quais luta em vão minha mente.
Meu coração que ignora simplesmente tal duelo e que te olha através do olhar que não me olha. E eu poderia passar sentada aqui toda a eternidade. Fazendo com que estes segundos, que eu não sei se serão poucos ou muitos, durem para sempre.
Durem toda a eternidade, ou uma eternidade qualquer. Para que eu possa extender ao máximo esta sensação de não saber, de não precisar saber e, principalmente de sequer desejar saber. Viver somente de olhar para o ar entre nosso olhar.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Cubo branco ao cubo 1
O espaço expositivo para a arte pensado enquanto espaço neutro que não compete com a obra artística foi traduzido na modernidade pela ideia do museu enquanto cubo branco. Dos que eu conheci, poucos parecem traduzir de maneira tão frenética esta noção quanto o High Museum em Atlanta (http://www.high.org/). Tamanha adesão à crença da neutralidade da geometria do quadrado e do branco produziu em mim um impacto que, enquanto comentário algo irônico, mas sem dúvida enquanto exercício de olhar interrogativo, lanço nesta coleção de detalhes ao cubo de obras expostas no museu.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Cubo branco ao cubo 2
Since Modern Art, exhibition spaces have been thought
and perceived as a neutral space translated into the idea of a white cube. No
other museum I have known relates to this ideal as much as the Atlanta High
Museum (http://www.high.org/). Here, the architectural space is all about reassuring
the white cube and its geometric standards. Such impact was somehow absorbed by
me within a peculiar gaze that sometimes relates and other times ironically comments
on this modern idea. Here are some samples of a geometrical gaze to some of the
pieces in High’s Collection.
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Love story
He was my
first Kiss, completely took my breathe away, I might have hurt him. He invited
me for a sleep over. He showed me there was power in being a woman, but I completely
forgot about it.
He showed me I could be jealous. He thought we were going to marry the minute we first kiss. We made a trip to the sea.
He was my boyfriend, so I thought, but not he. We split, he hated me. He looked for me 20 years later.
He showed me I could be jealous. He thought we were going to marry the minute we first kiss. We made a trip to the sea.
He was my boyfriend, so I thought, but not he. We split, he hated me. He looked for me 20 years later.
And he.
The only
thing of notice is that he reminds me I once had sex in a car for the first
time. We have never really been together, but many people thought we were
lovers. He was in my life for too long. I must have been sick. Oh God, the day
after his back looked as if he had been run over by a bulldozer.
And he?
We had absolutely
nothing in common. I must have been desperately needy. I thought he was handsome,
he looked like a prince. He was a complete jerk. I met him at a party. He had
an old man’s car. I felt immediately driven by him. I run into his arms the
minute I saw him in the street. He was so, so handsome. But he didn’t like
watches and I didn’t like shoes.
He?
He is a
true friend. Talk about friendship and sex between a man and a woman. He drives
me crazy in many ways but sometimes I think he is the only one who truly
respects me. We have known each other for so, so long.
He was my boyfriend. I didn’t really like him. He was the other guy’s guy, but we fucked.
He was my boyfriend. I didn’t really like him. He was the other guy’s guy, but we fucked.
And he.
He introduced
me to his father. His father loved my eyes. He made me fall in love all over
again. He simply left me. And I forgot everything about it.
He was a
musician and had truly black eyes. He had red hair. Doucement, I told him! He
was so found of himself. He never really respected me.
He taught
me I deserved to be respected. Those wore the most unbelievable 18 hours of my
life.
And I run
away from him.
He was the
great passion in my life. He called me “little beautiful girl” and I wished I
had known how to love.
He was the
first man to ever make me wish I'd be sleeping as someone made love to me.
He was a terrible person… where was I? He didn’t understand any real subject I
would talk about. He made me feel completely free, a true amazon, but I couldn’t
stand the sound of his voice.
He was just
a really old guy. He was going to marry somebody else. He made me think that love
could be a tree. I thought he was the one I dreamed about when I was a
teenager. He was not.
And he looked
for me after so many years. He sad my skin was just the same as twenty years before.
He felt lonely, he felt abandoned, I felt overwhelmed. We split.
He thought
me about the ways men try to have control over a woman.
He was my
first man, my true love, he told me we were going to marry, have a house and
children may be. No one has ever made me change dreams for reality like him, but
he truly broke my heart; he left without looking into my eyes.
domingo, 21 de setembro de 2014
Und dann there's the Hochzeit 2
Não havia nele um
pingo de sutileza investigativa. Talvez justamente porque era disto que se
tratava: investigar as sutilezas mais inauditas, as mais tênues. Ela, por outro
lado, era especialista na organização de todos os ditos, papéis e
números inclusive, que faziam parte de suas vidas. Completavam-se de maneira ímpar. Mas, às
vezes, ela estava em momento de sequer intuir que certas sutilezas indeléveis na
vida havia. Enquanto isto, dele os papéis se acumulavam e a cozinha se tornara
o reino abandonado da profusão de potes plásticos. Ela, eles achavam, era capaz
até de prever o futuro, mas nem sempre sabia se era nele ou no passado que
estava encantada, se era por estar absolutamente presente na profundidade de
seu agora. Mas havia, às vezes, esses momentos em que ela conseguia perceber
exatamente onde ele estava, ou estivera um dia. Estaria amanhã. Chegavam-lhe
como brisa que entra de repente pela janela. Como o frescor brilhante das
manhãs de primavera. Chegavam-lhe recheados de palavras que às vezes se
organizavam e encontravam lugar rapidamente sobre o papel. Havia algo de
epistolar entre eles, ele dissera certa vez. E outras vezes, escreviam cartas.
Mas havia também aqueles momentos – eras que eram por vezes – em que estavam em
lugares absolutamente distantes, incomunicáveis. A vida era mais simples para
os amantes, encontravam-se simplesmente na carne. Eles tinham uma vida marcada
por desencontros e momentos iluminados que ainda não controlavam. Ela se
perguntava, enquanto escrevia, porque parecia que melhor entendia quando
transferia, como se não falasse de si, embora de algum em si o começo da frase
sempre partisse. Ainda não havia encontrado teoria literária que lhe explicasse,
talvez nem fosse preciso. Precisaria? Entender por que sua escrita era recheada
de tantas oposições, tanta indeterminação, tanta instabilidade. Recheava-se de
por outros lados, talvezes e sempre que ele começava (senão, geralmente) uma
conversa íntima entre eles, sua primeira resposta era: – Não sei. Lembrava,
porém, de não ter dito não sei quando ele lhe dissera que não queria uma relação
à distância. Ao invés disso lhe perguntou: – O que sugeres? E ele de alguma forma respondeu: –
Acho que devemos morar juntos. Meter os peitos, ou melhor, dar um peitaço, ele
disse. Mas havia intranquilidade naquele peito, ela sabia. Ele nem sabia de
suas limitações a quilômetros de distância. Daquela cerca que ele criara para
se proteger da vida e da qual raramente saia. Costumeiro era vir ao seu
encontro como se carregasse uma mala em cada mão. Não, não eram malas de sua
mudança. Ou eram. Numa carregava suas dores passadas que ia descobrindo pouco a
pouco. Na outra havia alguma dose de desejo embaralhada com um resto de esperança.
Às vezes ela tinha a impressão de que a esperança dele era apenas um conceito.
Não chegava a ser uma esperança molhada daquelas com que a gente encharca o
peito. Gostavam tanto de água, de nadar sob o céu azul ou mesmo no céu nublado.
Ela achava-se especialista em porta-malas e bagagens. Achava sempre um jeito de
fazer tudo caber dentro do espaço que podia carregar. Organizava papéis e
armários. Mas ele, ele parecia estar mais próximo dela – pelo menos ela assim
sentia – quando ela se desprendia de qualquer coisa, de quase todas as coisas.
Quando mais do que desejar, de fato saía de casa sem bolsa e até sem chave.
Coisa que só era possível quando com ele estava. Ele não gostou. Lhe chamou a
atenção a certa altura para o fato de que ela deveria carregar suas próprias
chaves. Num plano bem prático, ela ficou triste por ver-lhe reivindicando que
não tivesse tanta liberdade. Mas sabia da profundidade das metáforas presentes
nos pequenos atos do dia a dia e entendia perfeitamente agora o que ele de fato
lhe dizia. E, como sempre, em alguma medida, ele tinha razão. Como sempre, em
alguma medida, ambos tinham sempre razão. Mas desconfiava também que era por
vezes razão demais. Poderia ser diferente? Talvez, à medida em que ela o
ajudasse reorganizando as malas, separando os conteúdos em sacos e sacolas
menores, dividindo o peso, diluindo a intensidade. Talvez lhes ajudasse se ela
pudesse também organizar – sem pressa, sem precisão – sem necessidade
imperiosa, seus armários. Essa parte sim seria difícil. Havia dois armários de
roupas na casa, era um apartamento de fato, mas como falar do lugar em que mora
o coração com essa palavra? Para ela o lugar deles era e seria para sempre
casa, mesmo que morassem em um apartamento em andar baixo, em prédio sem
elevador, bem pé no chão. Continuava, curiosamente, a sonhar com o que ele
chamava de sobreposição de tempos: o apartamento dela e o dele miscigenados.
Talvez acontecesse porque ela nesse momento numa casa morava. Esta, porém
raramente era seu lugar de encontro. Encontravam-se, de fato, no apartamento
dele. Algo chato, ela pensava. Afinal, era uma casa que desejavam. Uma casa antiga
talvez com aqueles maleiros amplos de armários embutidos. Seria por isso que
ela tanto gostara daquele primeiro apartamento em que com ele morara? Ele lhe
recebera tão aberto naquela vez. Abandonara, para as coisas dela, um armário
inteiro. E ela, em retribuição, organizou para ele o armário porta,
armário-quarto da cozinha. Maleiros que apenas existiriam para colocar malas
vazias. Malas recheadas de desejo sem peso de futuro, com futuro sem peso de
desejo.
"[...] abandonar a pulsão do saber, e contentar-se do savoir-faire. A personagem submete sua inteligência ao fazer, ou melhor, ao savoir-faire, que está na base ao mesmo tempo de qualquer construção artística e de nossa convivência com o inconsciente. Em outras palavras, a razão se submete às mãos ou ao corpo considerado como uma força de fora, para descobrir o enigma escondido no rochedo. O gozo do corpo na arte não esconde mais, mas anuncia a verdade artística. Reviravolta total da situação." Philippe Willenmart
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
G.H. 1
Uma
parte de mim se recusava a voltar. Se não recusava, pelo menos não desejava a
volta. A volta já não era mais apenas volta para casa, ou sua casa já não era
mais exatamente seu lugar. Condensados na casa, incrustados no tempo feito o
mofo nas paredes estavam velhos hábitos. Condensadas formas de perceber, reagir
e interagir com o mundo. Na casa, era toda enraizada – perdera o gosto da linha
de horizonte, da perspectiva ampla. A casa era sólida, era sua. No papel. Com o
passar do tempo e a soma das viagens, modificava-se o voltar. No começo, era
voltar para seu lugar, para seus modos, jeitos, comidas, horários, confortos.
Voltar a casa era voltar a seu eu. Talvez o que já não desejasse era voltar a
esse eu que parecia tão antigo quanto o tempo. O que no começo era sua zona de
conforto aos poucos começava a torna-se zona de recusa, zona de afastamento.
Preferia até estar no desconforto emocional de outros lugares, por mais que
esses também necessitassem emergir de décadas de águas passadas, choros
honestos e lágrimas mesquinhas. Encontrava-se em um lugar onde sentia que já não era mais, e ainda não sabia o que era, ou o que seria. Era antes das eras,
feito G.H.
Und dann there's the Hochzeit 1
Gabriel Zehender, "Retrato de um matrimônio", óleo sobre madeira, 1525. Em: http://www.museothyssen.org/en/thyssen/home |
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Os lugares
por onde ando hoje mapeados já estão
num desenho realizado por ti.
Tantos caminhos para mim encurtaste com teu percurso, tantas distâncias se aproximam,
tantos sólidos diluem-se em fluidez.
Todos os rios do mundo,
todas as ruas da cidade,
todos os meandros de um coração.
num desenho realizado por ti.
Tantos caminhos para mim encurtaste com teu percurso, tantas distâncias se aproximam,
tantos sólidos diluem-se em fluidez.
Todos os rios do mundo,
todas as ruas da cidade,
todos os meandros de um coração.
Detalhe da obra "Das estrelas e de seus olhos" executada por Leonilson em 1991. |
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LEONILSON,
poesia de sangue e tinta,
tua pele
terça-feira, 22 de julho de 2014
e ali
junto à paisagem que olha o mar
encontrei o lugar que acalenta o desejo
dois mares tão distintos
dois oceanos em meu destino
uma só pele
um só amor
junto à paisagem que olha o mar
encontrei o lugar que acalenta o desejo
dois mares tão distintos
dois oceanos em meu destino
uma só pele
um só amor
só amor
amar somente
e de todas
a lembrança mais doce
teus cheiros de ervas em meus cabelos
teus cheiros de ervas em meus cabelos
tua acidez de mel em meus pensamentos
e um universo inteiro
em cada corte
céus inteiros desabam
feito fruta madura
de cada morte
e de todas
a lembrança mais doce
teus cheiros de ervas em meus cabelos
teus cheiros de ervas em meus cabelos
tua acidez de mel em meus pensamentos
e um universo inteiro
em cada corte
céus inteiros desabam
feito fruta madura
de cada morte
escorre grosso
doce caldo
e cada abandono
de pensar sentimento
alimenta-me corpo
e almae cada abandono
de pensar sentimento
com mangostin maduro
domingo, 13 de julho de 2014
O Cavaleiro, a Morte e o Diabo
Albrecht Dürer, gravura em metal, 1513. Porque sempre é bom dobrar uma esquina da vida, ou de um museu e ser surpreendida pela visão dele. Agradecimentos especiais ao High Museum of Art: http://www.high.org/
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