Formandos Artes Visuais 2010/1, ULBRA Canoas. |
Senhoras e Senhores componentes da mesa, familiares e amigos destes formandos, queridos afilhados, boa noite!
Num primeiro momento, gostaria de agradecer a honra de ter
sido convidada para ser sua madrinha, muito obrigada!
Há alguns dias atrás, ao ter a possibilidade de visitar
aquele que é considerado um dos principais museus do mundo, o Louvre, e um
florido jardim, percebi que gostei muito mais do jardim: o jardim de Giverny,
jardim daquela que foi a casa de Claude Monet. Porquê o jardim?
Seria pela beleza da variedade de flores e cores? Seria pela
singeleza da casa de paredes coloridas feito flores? Seria o aroma de alfazema
que preenchia o ar? Seria saber que ali, entre aquelas paredes e naquele
jardim, um importante artista havia vivido tantos anos de sua vida? Pode ser,
mas desconfio que não.
Segundo um dos guias do local comentou, Monet amava aquele
jardim, adorava plantas e flores. Na casa ainda se pode ver em uma estante os
milhares de livros de botânica que possuía. Assim como se pode ficar sabendo
que várias de suas pinturas mais famosas foram produzidas ali e mostram esse mesmo
jardim. Fico imaginando que ele vivia e pintava mergulhado no mesmo aroma de
alfazema que senti lá. Admirável foi saber que este jardim, que hoje pode ser
visitado apenas durante alguns meses do ano, entre abril e outubro, depende do
trabalho de 12 jardineiros! Monet foi morar ali quando ainda não era famoso ou
rico. Comprou os lotes de terra aos poucos; com o passar dos anos alcançou
reconhecimento e fortuna, mas ainda era ele mesmo quem acordava todos os dias
às cinco horas da manhã para cuidar das plantas. Imagino que em dias frios uma
vozinha em sua cabeça possa ter tentado demovê-lo da empreitada. Mas, talvez,
uma outra voz, mais enfática tenha vencido. Uma voz que dizia: Não pensa,
executa!
Não pensa, executa! Segundo a Cláudia Regina, no último dia
de aula de Estagio IV, esta foi a frase mais importante que ouviu de mim
durante os cinco anos em que esteve no Curso de Artes Visuais. Entre o fascínio
e a surpresa por saber disto, coloquei a frase no “facebook”. Alguns amigos responderam
com seus comentários. Dentre estes, um me chamou a atenção. Ao lê-lo, percebi
que não era a primeira vez que ouvia aquilo. Uma outra ex-aluna, ex-colega de
vocês, agradeceu-me, mais uma vez, por seu uma professora que, segundo ela, “não
se economiza”. Nesse momento percebi que, em 10 anos de ensino universitário,
esta foi a frase mais importante que ouvi de um aluno. De 10 anos de carreira,
o mais importante que levo é o agradecimento de alguém que reconheceu o mais
importante do ofício do professor: a doação. As ações que doamos por
acreditarmos no que acreditamos.
Por isso, se como madrinha de vocês devo dar-lhes um
conselho para a vida futura, profissional ou não, tomo a liberdade de deixar
minha experiência de vida determinar a escolha, e lhes digo: não se economizem.
Porque na vida do professor não há certezas. E onde não há certezas, conselhos
pouca valia têm. Não há nunca a certeza de estar “fazendo certo”, pois tantos
conhecimentos são transitórios, datados, ou nada valem quando mudamos de lugar.
Outras tantas verdades que nos servem hoje deixam de servir a medida em que
amadurecemos e crescemos. Agradar os alunos, um sonho distante, pois não existe
unanimidade no afeto. No País em que vivemos, lamentavelmente, as certezas da
vida do professor são ainda mais estéreis. Sabemos que vocês não poderão contar
com condições dignas de trabalho, afinal, nosso sistema de ensino é indigno. Em
muitas escolas, os alunos não são mais do que um número e vocês serão pouco mais
do que um outro número. Não é a satisfação pelo reconhecimento do trabalho bem
feito ou do salário digno que irá incentivá-los a levantarem-se da cama todas
as manhãs.
Ainda assim, meu conselho é: não se economizem! E não se
economizar talvez seja tudo isso: fazer sabendo que não se recebe em troca
sempre o que se merece. Não se economizar talvez seja ter coragem de expor e
dividir a fragilidade e humanidade do professor. Ser professor, assim como ser
pai ou mãe, nos faz amadurecer na compreensão de que todo o nosso amor pelas
pessoas ou pelos valores nos quais acreditamos não são suficientes para nos
tornar infalíveis. E muitos de nós, assim como eu, talvez tenhamos iniciado sua
jornada desejando sê-lo. Como se a infalibilidade fosse garantia de qualquer
coisa. Mas, na vida, nossa fluidez, maleabilidade e dedicação são muito mais
seguras do que qualquer noção de infalibilidade.
Não se economizar, afinal, talvez seja apenas a capacidade
de mantermos nossa humanidade. E, nesta condição humana, perceber que somos
todos apenas meio. O jardineiro não
faz as flores crescerem por desejar isto. Elas crescem por si sós. Elas crescem
com uma força que, afinal, é da vida. O jardineiro apenas as auxilia: afofa a
terra, fornece água durante a estiagem, proteção da tempestade, adubo ou podas
no momento certo. Mas a flor, a flor cresce e desabrocha sozinha. Ainda assim,
é na ausência de economia consigo próprio que o jardineiro contribui de alguma
maneira em um processo que não lhe pertence; o processo da vida. O processo de
crescimento e amadurecimento. E, na força da vida, somos todos, jardineiros e
artistas, apenas meio.
Portanto, se há algo que eu ainda possa lhes acrescentar, ou
ao menos lembrar, ou apenas sugerir a vocês, que, acredito possa contribuir
para sua vida futura, digo: Não se economizem! Dediquem-se, doem-se, considerem
a sala de aula, a escola, a vida, um jardim. Assim como fizeram tantos poetas,
tantos artistas, tantos pais, tantos professores. Porque se é verdade, como
afirmou aquele personagem de A Festa de
Babete, que “tudo o que escolhemos na realidade nos foi dado”, também será
verdade que “da vida somente levamos o que doamos”.
Muito obrigada. Ouro
de artista é amar bastante!
Mensagem da Paraninfa à turma de formandos em Artes Visuais
2010/1, em 13 de Agosto de 2010.
Sim Ana...Eu disse mesmo e repito: O melhor de ti foi sempre "não se economizar"...Aliás lição que tenho levado na vida e tbm o único jeito de tornar real o que chamam de "viver intensamente".Na prática tem sido ser 100% verdadeira em todos os momentos (bons e ruins).Verdade, nao ta facil mas nestes tempos de mundo de aparencias;simulacros e "pessoas vácuo"...a honestidade;por mais que doa,ainda continua sendo a forma mais confortável e segura de se relacionar!Eu acho.Te amo minha Profe."Inesquecível Fashion".Saudade dos nossos papos...Volta logo.To precisando muuuito dos teus conselhos sabios�� Bjao.Gessamine Dieguez
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